segunda-feira, 4 de abril de 2011

Jogo 3: Dona Maria vs. Passo delle Mule

Por fenómenos aos quais somos alheios, vimo-nos obrigados a começar pelos jogos ímpares deste campeonato mundial. Peço-vos, leitores, que não estranhem o súbito desaparecimento de algo que não chegou sequer a ter lugar. Refiro-me, claro, ao segundo jogo.

Dona Maria 2007 vs. Passo delle Mule 2008

O antecipado embate luso-italiano ocorreu na passada sexta-feira numa atmosfera de entusiasmo e excitação, com uma excelente moldura humana (a Voz Autoral sempre quis usar esta expressão!). Antecipava-se um bom jogo, a opor um Dona Maria favorito dos leitores a um menos valorizado Passo delle Mule. Seria a segunda vitória portuguesa frente à Itália? Ou estaríamos perante uma vendetta da squadra azzurra pela desfeita no primeiro jogo?

As equipas entraram em campo depois de uma hora de alongamentos nos decanters. Não havia grande diferença nos equipamentos, ambos os vinhos vestiam um tom rubi, sendo que o segundo era ligeiramente mais profundo. Os juízes meteram o nariz onde lhes competia e deram pelos frutos vermelhos maduros, o morango, a cereja e algo vegetal no primeiro vinho, e pela ameixa seca, couro, madeira, violetas e cavalo morto ao sol, impossibilitado de chegar ao estábulo por causa de uma qualquer gangrena, no segundo. O embate não cumpria tanto quanto havia prometido.

Depois de uma primeira parte pouco equilibrada, o vinho número um tornou a entrar ao ataque com o seu sabor a frutos vermelhos, morango e figos maduros. As jogadas eram bem estruturadas, com um fim de boca longo e saboroso que entrava na área em fintas sucessivas. Os taninos finos e equilibrados até marcavam de bicicleta. Um vinho que dava gosto ver em acção, elegante e de corpo médio.

O segundo vinho entrou para a ponta final do jogo já cansado e de cabeça baixa. Na boca, mal se percebia a presença da ameixa seca, das violetas e do couro. Era um vinho fechado na defesa, desagradável e faltoso no palato. O nível de acidez era muito alto, não havia jogadas estudadas, nem sequer uma tentativa de contra-ataque, apenas as entradas a pés juntos que mereciam vermelho directo. O que se pode dizer mais? Era um vinho com bom corpo, mas muito desequilibrado. A acidez estragou o espectáculo.

Note-se que o derrotado ficou no copo.

No momento de apitar para o final do jogo, tinha ficado bem claro quem era o vencedor. A decisão foi inequívoca e unânime, só faltava saber o nome do apurado para a ronda seguinte. Para espanto de alguns e pouca surpresa de outros, o nome do primeiro vinho surgiu: Passo delle Mule. A squadra azzurra acabou, então, por derrotar uma favorita selecção das quinas que pouco ou nada acrescentou a este mundial. Segue em frente com todo o mérito e cá a esperamos para os quartos!

1 comentário:

  1. Uma previsão corretíssima, ó Voz Autoral, parabéns! Quanto a mim, achava que o corpo alentejano fosse sobrepujar a fineza das uvas sicilianas, que, devido ao calor intenso, sempre perigam sair-se muito desequilibradas. Enganei-me deveras: o Dona Maria, com sua excessiva acidez e sua desagradável catinga, foi aniquilado pela elegância de um Passo delle Mule muito refinado. A mula, rapaz, virou boi! Olé!

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