O jogo da passada sexta-feira foi, até à data, o mais emocionante. De um lado, o francês mais cotado do grupo, com 91 pontos atribuídos pela Wine Spectator. Do outro, um italiano de valor, ao qual a mesma revista atribuiu 88 pontos. A emoção foi tanta, que esta vossa Voz Autoral se esqueceu de tirar fotografias para documentar o espantoso desafio.
Saint-Joseph Offerus 2006 |
A partida começou bem. Ambos os vinhos apresentavam uma bela cor. O primeiro vestia-se de um rubi profundo e intenso, o segundo envergava um equipamento mais escuro, quase azul. Quanto ao nariz, o primeiro fazia as amoras jogarem de primeira e actuava com a pimenta preta a 10, a distribuir bolas em desmarcação para um chocolate que mostrou boa pontaria. Havia também, a presença de algo vegetal e misterioso. O segundo vinho não entrou a jogar bem. As jogadas envolviam cássis, cereja, algo entre o alecrim e a sálvia, mas sem conseguir criar perigo. O último terço do campo estava entregue a algo mineral e desagradável, que nunca conseguia fugir da armadilha do fora-de-jogo.
Ca' di Pian 2007 |
Na segunda parte, o jogo foi diferente, mas não muito. O primeiro vinho continuou com uma pimenta preta trabalhadora a fazer assistências para um chocolate verdadeiramente inspirado. Nos cantos, eram as especiarias e as violetas que ficavam ao segundo poste para cabecear. As jogadas eram bem pensadas, o fim-de-boca era longo e agradável, o vinho revelava um óptimo corpo. Só pecou pela acidez no início da segunda parte. Com mais alguns minutos de copo, a acidez tornou-se numa surpreendente frescura cítrica no fim-de-boca.
O segundo vinho voltou dos balneários de cabeça erguida e a querer discutir o resultado. As jogadas já eram mais pensadas, havia muita fruta vermelha e algumas flores a empurrarem o adversário contra as cordas. Os taninos muito finos chegavam sempre à área com perigo. Era um vinho de corpo médio, que não se mostrava muito equilibrado, revelando notas amargas no fim-de-boca que falhavam isoladas em frente à baliza. Contudo, era indiscutivelmente mais elegante que o primeiro vinho.
O jogo foi intenso e terminava empatado a uma bola. Esta vossa Voz Autoral deu o seu voto ao primeiro vinho, o Brutal Juiz optou pelo segundo. O prolongamento foi árduo e arrastado. Houve indecisões de ambos os lados, avanços e recuos, cedências e trocas de argumentos bem acesas. O público estava ao rubro e as claques faziam-se ouvir. Finalmente, chegou-se a um consenso. A vitória foi atribuída ao primeiro vinho, apesar do constante escrutínio sobre o segundo vinho ao longo do resto da tarde. Restava saber o nome do vencedor: Ca' di Pian. Foi uma verdadeira surpresa para uns, para outros nem tanto. A Itália põe a sua segunda equipa nos quartos, a França vê uma derrota imposta a um dos favoritos. Um grande embate, um resultado justo e um vencedor com grandes aptidões gastronómicas. O que mais se pode pedir?